Gostaria de fazer um curso de pintura, aprender francês e
também uma atividade física, porque começo a perceber que isso é mesmo
necessário. Queria ler mais o que eu quero, rezar mais, visitar lugares lindos,
estar com as pessoas que eu amo. Passar mais tardes com meu irmão, dormir na
casa da minha avó enquanto ela está entre nós, sair pra jantar com meu namorado
e nossos amigos. Queria cuidar melhor das minhas plantas, me dedicar mais aos
estudos do que me interessa. Mas não, não tenho tempo de conciliar tudo.
Trabalhar, acordar cedo, conviver pouco com a família e
viver estressado são quase que virtudes hoje em dia. Se você não estiver
dormindo na condução ou reclamando do congestionamento que você enfrentou para
voltar pra casa você não deve levar a vida a sério, deve ser acomodado e ter
tudo muito fácil. Não suportar esse ritmo louco de deveres extensos e tempo
curto é frescura. Você não tem o direito de se sentir esmagado pelo mundo e ser
contra isso, de gritar por uma pausa, de surtar um pouco. Isso é fraqueza,
gente que não aguenta o tranco da vida de verdade.
Mas o que é a vida, na verdade? Se eu realmente, lá no
fundo, acreditasse que ela se resume apenas a esse trabalhar-estudar-descansar
pouco-trabalhar-estudar eu já teria me matado. Sim, pois isso é deprimente. É
claro que não estou dizendo que devemos viver sem uma ocupação que nos garanta
o sustento ou sem os estudos. O trabalho é importante e é até mesmo um dever,
porém ele é um meio, não um fim. O que
vale mesmo nessa vida é o que teremos depois dela. Mas para chegar lá, temos de
driblar todo esse materialismo que inunda nossos corações, resultado da ética
protestante calvinista, do marxismo e do capitalismo selvagem, e focarmos (sem
trocadilhos, por favor) na eternidade.
Mas por que isso é tão difícil? Por que é tão complicado se
desvencilhar desse ciclo nauseante de correr contra o tempo para fazer um monte
de coisas que, no final, não vão nos levar a lugar algum? O que será que nos
impede de encontrarmos o equilíbrio entre nossos deveres neste mundo e o que
vai nos levar ao Céu? Por que essa angústia e desânimo por um semestre que
ainda nem começou?
Como sou fraca. Por mim mesma apenas, tenho nada.
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