Salões aristocráticos, babados e saias volumosas, perucas, muito pó de arroz e rococós por todos os lados. Ao ouvirmos música barroca, geralmente é essa a primeira imagem que vem à nossa cabeça, muitas vezes influenciada por filmes e livros. Também é característico da música desse período aquele som pinçado e colorido, o qual é imediatamente associado ao som do cravo. Mas, o cravo está longe de ser um instrumento único e padronizado. Com o passar dos séculos, inúmeras variações foram surgindo e originaram um grupo de instrumentos conhecidos como pertencentes à família do cravo. São eles o cravo, o clavicítero, a espineta e o virginal.
O cravo surgiu em meados da Idade Média, provavelmente quando um teclado foi anexado a um saltério, fornecendo um meio mecânico para tanger as cordas (o saltério era um instrumento de cordas antigo em que elas eram pulsadas ou beliscadas, assemelhando-se ao funcionamento da harpa). As versões menores do cravo são o virginal e a espineta, sendo portanto menos sonoros e, assim, destinados a ambientes menores do que salas de concerto. O clavicítero, uma versão vertical do cravo, economizava espaço e foi produzido nos séculos XVI e XVII.
Exemplo de cravo |
Exemplo de virginal |
Exemplo de espineta |
Exemplo de clavicítero |
Neste grupo de instrumentos, as teclas operam um jaque de madeira apoiado em sua extremidade oposta. Uma palheta de cálamo ou couro preso ao topo do jaque belisca a corda adjacente quando ela se eleva e uma caixa de madeira amplifica o som produzido. O cravo tem uma caixa maior do que a dos demais instrumentos de sua família, por isso é o mais sonoro. O cravo é chamado de clavicembalo ou cembalo em italiano, de clavecin em francês e de harpsichord em inglês.
Clavicórdio ilustrado com a famosa batalha de Lepanto |
É comum ocorrer certa confusão entre os instrumentos da família do cravo e o clavicórdio. Entretanto, o segundo difere-se dos primeiros por não ter suas cordas beliscadas, mas percutidas por tangentes, produzindo um som semelhante ao do cravo, mas mais suave.
O cravo alcançou seu ápice de popularidade ao final do século XVII. Destacam-se entre seu repertório os compositores da escola inglesa de virginais, como Byrd e Farnaby, os italianos Vivaldi, Scarlatti e Frescobaldi, o francês Rameau e, claro, os alemães J.S. Bach e George Philipp Telemann. O cravo e o piano existiram lado a lado até meados do século XVIII. Entretanto, ao tempo de Mozart e Beethoven, o piano já se transformava no instrumento padrão para concertos e a família do cravo sofreu um abandono progressivo, que persistiu ao longo de todo o século XIX. O interesse pelo cravo ressurgiu apenas no século XX, com a recuperação de velhos instrumentos, a construção de novos e o surgimento de modernos cravistas profissionais.
O vídeo a seguir é da Sonata em Ré Menor, K 517, de D. Scarlatti, tocada pela cravista norte-americana Elaine Comparone. A agilidade dela é incrível!
Já esse vídeo mostra o funcionamento do cravo (em inglês).
Helena Jank |
A brasileira Helena Jank também é considerada uma virtuosa cravista no país e no exterior. Ela chegou a ser convidada por Karl Richter a continuar os estudos de pós-graduação em sua masterclass e a integrar a famosa Orquestra Bach de Munique, por ele dirigida. De volta ao Brasil, ela integrou diversos projetos que contribuíram para a divulgação da música barroca pelo país e realizou diversas pesquisas relacionadas ao período barroco, concentrando-se principalmente na obra de J.S. Bach. Foi também diretora do Instituto de Artes da UNICAMP entre 1999 e 2003.
Muito legal Cintia!
ResponderExcluirQuem sabe um dia você poderia fazer um post sobre o séc XVIII e XIX que era muito comum as moças tocarem guitarra(É que não existe o termo violão em outra língua hehe.
Inté.
Bruno Inácio