terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Instrumentos (Parte I) - A Família do Cravo

Salões aristocráticos, babados e saias volumosas, perucas, muito pó de arroz e rococós por todos os lados. Ao ouvirmos música barroca, geralmente é essa a primeira imagem que vem à nossa cabeça, muitas vezes influenciada por filmes e livros. Também é característico da música desse período aquele som pinçado e colorido, o qual é imediatamente associado ao som do cravo. Mas, o cravo está longe de ser um instrumento único e padronizado. Com o passar dos séculos, inúmeras variações foram surgindo e originaram um grupo de instrumentos conhecidos como pertencentes à família do cravo. São eles o cravo, o clavicítero, a espineta e o virginal.
O cravo surgiu em meados da Idade Média, provavelmente quando um teclado foi anexado a um saltério, fornecendo um meio mecânico para tanger as cordas (o saltério era um instrumento de cordas antigo em que elas eram pulsadas ou beliscadas, assemelhando-se ao funcionamento da harpa). As versões menores do cravo são o virginal e a espineta, sendo portanto menos sonoros e, assim, destinados a ambientes menores do que salas de concerto. O clavicítero, uma versão vertical do cravo, economizava espaço e foi produzido nos séculos XVI e XVII.

Exemplo de cravo
  
Exemplo de virginal

Exemplo de espineta

Exemplo de clavicítero

Neste grupo de instrumentos, as teclas operam um jaque de madeira apoiado em sua extremidade oposta. Uma palheta de cálamo ou couro preso ao topo do jaque belisca a corda adjacente quando ela se eleva e uma caixa de madeira amplifica o som produzido. O cravo tem uma caixa maior do que a dos demais instrumentos de sua família, por isso é o mais sonoro. O cravo é chamado de clavicembalo ou cembalo em italiano, de clavecin em francês e de harpsichord em inglês.

Clavicórdio ilustrado com a famosa batalha de Lepanto
É comum ocorrer certa confusão entre os instrumentos da família do cravo e o clavicórdio. Entretanto, o segundo difere-se dos primeiros por não ter suas cordas beliscadas, mas percutidas por tangentes, produzindo um som semelhante ao do cravo, mas mais suave.

O cravo alcançou seu ápice de popularidade ao final do século XVII. Destacam-se entre seu repertório os compositores da escola inglesa de virginais, como Byrd e Farnaby, os italianos Vivaldi, Scarlatti e Frescobaldi, o francês Rameau e, claro, os alemães J.S. Bach e George Philipp Telemann. O cravo e o piano existiram lado a lado até meados do século XVIII. Entretanto, ao tempo de Mozart e Beethoven, o piano já se transformava no instrumento padrão para concertos e a família do cravo sofreu um abandono progressivo, que persistiu ao longo de todo o século XIX. O interesse pelo cravo ressurgiu apenas no século XX, com a recuperação de velhos instrumentos, a construção de novos e o surgimento de modernos cravistas profissionais.

O vídeo a seguir é da Sonata em Ré Menor, K 517, de D. Scarlatti, tocada pela cravista norte-americana Elaine Comparone. A agilidade dela é incrível!



Já esse vídeo mostra o funcionamento do cravo (em inglês). 



Helena Jank
A brasileira Helena Jank também é considerada uma virtuosa cravista no país e no exterior. Ela chegou a ser convidada por Karl Richter a continuar os estudos de pós-graduação em sua masterclass e a integrar a famosa Orquestra Bach de Munique, por ele dirigida. De volta ao Brasil, ela integrou diversos projetos que contribuíram para a divulgação da música barroca pelo país e realizou diversas pesquisas relacionadas ao período barroco, concentrando-se principalmente na obra de J.S. Bach. Foi também diretora do Instituto de Artes da UNICAMP entre 1999 e 2003. 

Vale a pena conhecer seu blog e ouvir suas interpretações: http://helenajank.webs.com/ 

 

Um comentário:

  1. Muito legal Cintia!

    Quem sabe um dia você poderia fazer um post sobre o séc XVIII e XIX que era muito comum as moças tocarem guitarra(É que não existe o termo violão em outra língua hehe.

    Inté.

    Bruno Inácio

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