sábado, 15 de janeiro de 2011

A Pequena Gota de Orvalho

Celina e Teresinha crianças
Para retornar com meus posts nesse novo ano, escolhi uma das minhas cartas preferidas escritas por Santa Teresinha do Menino Jesus. Com uma argumentação poética e com muita graça, Santa Teresinha declara a importância e a beleza da vocação religiosa à sua irmã Celina, que ainda estava fora do Carmelo, cuidando do pai enfermo. 

Apesar dela ser dirigida à exaltação da vida consagrada, os que não possuem tal vocação também podem aprender muito com essa carta. A simplicidade ao viver, o desapego do mundo e o incansável desejo de um dia estar na Pátria Celeste devem ser constantes na vida de qualquer cristão, seja qual for seu estado.

Claro, fica evidente nessa carta o porquê da vida religiosa ser superior aos outros estados. Porém, Santa Teresinha deixa claro que "Jesus não chama todas as almas para serem gotas de orvalho", pois assim como cada membro do corpo exerce uma função específica, cada alma tem uma missão nos planos divinos. 

Espero que a leitura a seguir traga-lhes boas reflexões e que Nossa Senhora nos ajude durante esse novo ano a cumprirmos a vontade de Deus para conosco. Assim, poderemos encontrar uma dia a Felicidade Eterna.  

Salve Maria!
Ad Majorem Dei Gloriam
Cíntia 

J.M.J.T 
Carmelo, 25 de abril de 1893
 Jesus + 
Minha querida Celina,
Vou dizer-lhe um pensamento que me veio esta manhã, ou melhor, vou lhe comunicar os desejos de Jesus sobre a sua alma.
 Quando penso em você junto do único Amigo de nossas almas, é sempre a simplicidade que se me apresenta como a nota distintiva do seu coração. Celina, simples pequenina flor - Celina, não inveje as flores dos jardins. Jesus não nos disse: "Eu sou a flor dos jardins, a rosa cultivada", mas "Eu sou a flor dos campos e o Lírio dos vales". Pois bem, pensei essa manhã junto ao Sacrário, que a minha Celina, a florzinha de Jesus, deveria ser e permanecer sempre uma gota de orvalho escondida na divina corola do belo Lírio dos vales.
 Uma gota de orvalho, o que há de mais simples e de mais puro? Não foram as nuvens que a formaram, visto que quando o azul do céu está estrelado, o orvalho cai sobre as flores. Nem se compara à chuva, à qual sobrepuja em frescura e beleza. O orvalho só existe de noite; logo que o Sol lança seus raios quentes, faz destilar as pérolas encantadoras que cintilam na extremidade das folhinhas da erva do prado e o orvalho transforma-se em tênue vapor. A Celina é uma gota de orvalho que não foi formada por nuvens, mas desceu do lindo Céu, sua Pátria. Durante a noite da vida, sua missão é esconder-se no coração da Flor dos campos; nenhum olhar humano deve descobri-la ali. Só o cálice que possui a gotinha conhecerá o seu frescor.
 Feliz pequena gota de orvalho, conhecida somente de Deus, não pare para considerar o curso retumbante dos rios deste mundo, nem mesmo inveje o límpido riacho que margeia a campina. Sem dúvida seu murmúrio é muito suave, mas as criaturas podem ouvi-lo e o cálice da Flor dos campos não poderia contê-lo. Não pode ser só para Jesus! Para aproximar-se de Jesus é preciso ser pequena! Pequenina como a gota de orvalho. Como existem poucas almas que aspiram ser pequenas e desconhecidas! "Mas, dizem elas, o rio e o riacho não são mais úteis que a gota de orvalho? O que é que ela faz? Não a julgamos feita para nada, senão mpara refrescar, um instante, a corola frágil de uma flor do campo que hoje existe e amanhã desaparece."
 Não há dúvida que essas pessoas têm razão, a gota de orvalho só serve para isso, mas elas não conhecem a Flor do campo que quis habitar em nossa terra de exílio e permanecer nela durante a curta noite da vida. Se a conhecessem compreenderiam melhor a censura que Nosso Senhor fez uma vez à Marta. Nosso Amado não precisa nem de nossas obras brilhantes, nem dos nossos belos pensamentos; quando quer pensamentos sublimes, não possui Ele, seus anjos, cuja ciência ultrapassa infinitamente a dos maiores gênios de nossa triste terra? Não foi, pois, nem o gênio nem os talentos que Jesus veio buscar aqui em baixo... Ele se fez a Flor dos campos somente para nos mostrar o quanto ama a simplicidade.
 O Lírio dos vales só suspira por uma gotinha de orvalho. E foi por isso que criou uma que se chama Celina! Durante a noite da vida, ela permanecerá escondida aos olhos humanos. Mas quando as sombras começarem a declinar, quando a Flor dos campos tornar-se o Sol de Justiça, quando vier então completar a sua corrida de gigante, esquecerá Ele a sua gota de orvalho? Ah, não! Logo que aparecer na glória, a companheira de seu exílio aparecerá também. O divino Sol lançará sobre ela um de seus raios de amor e imediatamente mostrará aos olhos dos anjos e dos Santos deslumbrados, a pobre gotinha de orvalho que cintilará como um diamante precioso que, ao refletir o Sol de Justiça, se tornará semelhante a Ele. Mas não é tudo. O Astro divino, ao olhar para sua gota de orvalho a atrairá a Si e ela subirá até Ele como um leve vapor e irá se fixar por toda a eternidade no seio do foco ardente do Amor incriado e ficará para sempre a Ele unida. Assim como na terra foi sua fiel companheira de exílio e de seus desprezos, assim, no Céu, com Ele reinará eternamente. Como ficarão admirados os que neste mundo tinham aproximado o coração do Coração da Flor dos campos e não escutaram estas palavras sedutoras:"Dá-me de beber". Jesus não chama todas as almas para serem gotas de orvalho. Quer que haja licores preciosos que as criaturas apreciam, que as aliviem nas suas necessidades, mas para Si reserva uma gota de orvalho; esta é toda sua ambição.
 Que privilégio ser chamada à tão alta missão! Mas para ser-Lhe fiel, o quanto é importante permanecer simples... Jesus sabe bem que na terra é difícil conservar-se puro, por isso quer que as gotas de orvalho ignorem-se a si mesmas; apraz-se em contemplá-las, mas só Ele as vê e elas, desconhecendo o seu próprio valor, julgam-se inferiores às outras criaturas...eis o que deseja o Lírio dos vales. A gotinha de orvalho, Celina, compreendeu. Eis o fim para que Jesus a criou, mas é preciso que não esqueça sua irmãzinha e que lhe alcance a realização do que Jesus lhe faz compreender, a fim de que um dia, o mesmo raio de Amor destile as duas gotinhas de orvalho e que juntas possam, depois de na terra terem sido uma só, unirem-se por toda a eternidade no seio do Sol divino.
 Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face
rel. carm. ind. 



Retirado de: Pérolas de Santa Terezinha: cartas seletas de 1888 a 1897 / tradução por Maria Fleichman.
Editora Permanência, 2009. 

2 comentários:

  1. Olá, Cíntia!
    Salve Maria!
    As palavras dessa querida Santinha são sempre doces! Ela me encanta.

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  2. Realmente, doçura é a palavra que define Santa Teresinha. Mas não é a doçura melosa e sentimentaloide moderna, mas a doçura de quem realmente conhece e ama Jesus, a única Verdade.

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